A solidão é uma mulher espancada que não tem mais força e nem vontade de amar. A solidão é uma criança faminta, sonhando com um pedaço de pão dormido. A solidão é o mendigo que não fechou os olhos há dias e noites e, quem sabe, desde que foi arrancado da barriga da mãe.
Como a loucura, a solidão é o medo.
Um homem só é um homem com medo. Um homem vivendo no medo é um homem só. Quando a solidão entra em mim, ela se torna eu. A solidão surge de improviso, quando apenas o corpo me pertence, e também quando apenas eu lhe pertenço. A solidão transforma a consciência em prisão, um calabouço de onde tenho medo de sair.
Medo de nada compreender, medo de tudo compreender. Medo de amar e de não mais amar. Medo de tudo esquecer e medo de nada esquecer […]. Medo de passar fome, medo de não ter mais sede de nada. Medo de morrer e de viver. Medo de ter medo. Medo de estar sozinho quando ninguém mais está ali. Medo de estar sozinho quando o ser amado está ali.
Há um medo que não é a morte, ainda, mas que não é mais a vida.
Elie Wiesel | “Uma Vontade Louca de Dançar”
(Bertrand Brasil, 2006, pp. 202-203)