A solidão é uma mulher espancada que não tem mais força e nem vontade de amar. A solidão é uma criança faminta, sonhando com um pedaço de pão dormido. A solidão é o mendigo que não fechou os olhos há dias e noites e, quem sabe, desde que foi arrancado da barriga da mãe.

Como a loucura, a solidão é o medo.

Um homem só é um homem com medo. Um homem vivendo no medo é um homem só. Quando a solidão entra em mim, ela se torna eu. A solidão surge de improviso, quando apenas o corpo me pertence, e também quando apenas eu lhe pertenço. A solidão transforma a consciência em prisão, um calabouço de onde tenho medo de sair.

Medo de nada compreender, medo de tudo compreender. Medo de amar e de não mais amar. Medo de tudo esquecer e medo de nada esquecer […]. Medo de passar fome, medo de não ter mais sede de nada. Medo de morrer e de viver. Medo de ter medo. Medo de estar sozinho quando ninguém mais está ali. Medo de estar sozinho quando o ser amado está ali.

Há um medo que não é a morte, ainda, mas que não é mais a vida.


Elie Wiesel | “Uma Vontade Louca de Dançar

(Bertrand Brasil, 2006, pp. 202-203)


Posted by: Jussara



Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo e sobre nossos túmulos
nascerão flores amarelas e medrosas.

Carlos Drummond de Andrade


Posted by: Jussara (15h00)


A luz estava toda lá dentro e o escuro, todo fora.”

(Paolo Giordano em ‘A solidão dos números primos)





Pequena consideração sobre o medo do escuro

Por Mirella  |  Fonte original: Não-Coisa  |  11 de novembro de 2009 – 12:26


As luzes se apagam e com elas vão todos os artifícios.

Dissolvem-se os simulacros.

Calam-se as mentiras que a contemporaneidade conta pra se esconder de si.

As luzes se apagam e uma voz grave nos vem sussurrar no escuro:

Suas coisas são frágeis demais. Vocês estão fazendo tudo errado.