Gostei desse texto abaixo e, como estou com uma preguiça enorme de colocar em palavras o que anda “passando pela minha cabeça”, ele me serve bem. Espero que a autora não se incomode…
Uma tragada de obviedades. Seguro-as dentro de mim ao máximo tempo, depois solto uma angústia cinzenta que demora a se dissipar. Eu estou cheia. Nunca tenho fome, nunca tenho sede, nunca tenho vontades inéditas. Mas não passo fome de coisas, ao contrário, estou sempre cheia, como disse. Sempre tentando preencher algum vazio que me brota aqui ou ali. Dois, seis, setecentos goles, setecentos golpes. Quatro mil tropeços. São essas lacunas dentro. Cair é fácil. Cair num letárgico sofrimento. Eu já disse, é como se um impedimento se anunciasse bem no meio da vontade. E tudo é cinza de um suposto querer novamente.
Uma flor vermelha. Um beijo doce. Uma taça de vinho. Um pôr-do-sol. A cada tragada. Nos sonhos, elas vêm aos montes. Cobras azuis. Obviedades. Virtualmente, carrego um coral florido, um merengue beijado, um tinto de copas, um horizonte acabando, findando a luz. Há uma luz teatral sobrepesando um círculo negro e, bem no centro, um cravo inexplicavelmente vermelho morre comigo.
(via “A Inércia“)
Ontem sonhei com uma pessoa que não conheço muito bem, mas que até bem pouco tempo me parecia muito interessante e atraente em alguns aspectos menos óbvios. Foi um sonho de “proximidade”, acho que posso descrevê-lo assim. Estranho, pois nunca tinha sonhado com nada parecido antes e não costumo ter sonhos “doces”; mas foi o caso deste. Até acordei bastante incomodada, já que o sonho vem em momento completamente inapropriado, como que fora de lugar, em atraso… Tão íntimo, tão pessoal e suave, de uma forma que não seria possível na vida “real”. Para um momento desses acontecer é necessário duas pessoas dispostas a se darem uma a outra, nem que por apenas algumas horas. “Armaduras” e “armas” tem que ficar do lado de fora. Difícil demais, não? Principalmente quando o orgulho é matéria do cotidiano e o esnobismo já virou hábito que nem sequer se percebe mais.
Tenho de confessar que foi bem agradável, mas fiquei com uma forte impressão de que, se o sonho se realizasse, o acontecimento real passaria longe da suavidade e da intimidade que a imagem onírica criou. Provavelmente, eu até estranharia; não estou mais acostumada à gentileza, à suavidade e à doçura de gestos e carícias. Ultimamente, as pessoas só conseguem dar bofetadas (físicas ou psicológicas) nos outros ou espalhar desprezo; ou deboche, que parece deixá-las extremamente felizes consigo mesmas. De qualquer forma, o sonho não podia ser MAIS fora de hora…
O timing do meu mundo onírico é péssimo! rsrsrs… E não me venham com teorias psicanalíticas sobre o inconsciente, porque hoje não estou interessada. A sensação forte e pesada das “entranhas” fala muito mais alto do que qualquer inconsciente.
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