Posted by: Jussara

Barbara Kruger - past-present-future (www.thecitrusreport.com)

Nenhum de nós sabe o que existe e o que não existe. Vivemos de palavras. Vamos até a cova com palavras. Submetem-nos, subjugam-nos. Pesam toneladas, têm a espessura de montanhas. São as palavras que nos contêm, são as palavras que nos conduzem.

Mas há momentos em que cada um redobra de proporções, há momentos em que a vida se me afigura iluminada por outra claridade.

Há momentos em que cada um grita: Eu não vivi! Eu não vivi! Eu não vivi!

Há momentos em que deparamos com outra figura maior, que nos mete medo. A vida é só isto?



Raul Brandão | “Húmus”



Posted by: Jussara


Sei que fazer o inconvexo aclara as loucuras. Sou formado em desencontros.

A sensatez me absurda. Os delírios verbais me terapeutam.

Posso dar alegria ao esgoto (palavra aceita tudo).

(E sei de Baudelaire que passou muitos meses tenso porque não encontrava um título para os seus poemas. Um título que harmonizasse com os seus conflitos. Até que apareceu Flores do Mal, A beleza e a dor. Essa antítese o acalmou).

As antíteses congraçam.

(Manoel de Barros)



Uso a palavra para compor meus silêncios. Não gosto das palavras fatigadas de informar. Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão tipo água, pedra, sapo. Entendo bem o sotaque das águas. Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes. Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim esse atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo. Sou um apanhador de desperdícios: Amo os restos, como as boas moscas. Queria que a minha voz tivesse um formato de canto. Porque eu não sou da informática: eu sou da invencionática. Só uso a palavra para compor meus silêncios.

(Manoel de Barros)


Posted by: CAROL

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Até hoje não se percebeu com a necessária clareza e profundidade que a nossa época, apesar do excesso de irreligiosidade, está consideravelmente sobrecarregada com o que adveio da era cristã, a saber, com o predomínio da palavra, daquele Logos que representa a figura central da fé cristã. A palavra tornou-se, ao pé da letra, o nosso deus e assim permanece mesmo para quem conhece o cristianismo apenas externamente. Palavras como “sociedade” e “Estado” concretizaram-se de tal maneira que quase chegaram a se personificar. Para a crença vulgar, o Estado se tornou, ainda mais do que o rei das épocas primitivas, o doador inesgotável de todos os bens. O Estado é invocado, responsabilizado, acusado, etc. A sociedade se transforma no princípio ético supremo, atribuindo-se-lhe inclusive a capacidade de criação. Ninguém parece observar que a veneração e o endeusamento da palavra, necessárias para uma determinada fase de desenvolvimento espiritual e histórico, traz consigo um lado sombrio bastante perigoso. Desde o momento em que a “palavra”, através de uma educação secular, adquire validade universal, ela rompe sua ligação originária com a Pessoa divina. Ao romper essa ligação, surge uma Igreja extremamente personificada e – last not least – um Estado igualmente personificado; a fé na “palavra” se transforma em crendice e a própria palavra em slogan informal, capaz de todo tipo de impostura. Com a crendice, com as propagandas e anúncios, o cidadão satura os ouvidos, assume compromissos e negócios políticos, enquanto a mentira alcança proporções jamais vistas.

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Carl G. Jung  |  “Presente e Futuro”  (p. 35)

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Posted by: Jussara

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Posted by: Jussara…….

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Be careful of words,
even the miraculous ones.
For the miraculous we do our best,
sometimes they swarm like insect
and leave not a sting but a kiss.
They can be as good as fingers.
They can be as trusty as the rock
you stick your bottom on.
But they can be both daisies and bruises.
Yet I am in love with words.
They are doves falling out of the ceiling.
They are six holy oranges sitting in my lap.
They are the trees, the legs of summer,
and the sun, its passionate face.
Yet often they fail me.
I have so much I want to say,
so many stories, images, proverbs, etc.
But the words aren’t good enough,
the wrong ones kiss me.
Sometimes I fly like an eagle
but with the wings of a wren.
But I try to take care
and be gentle to them.
Words and eggs must be handled with care.
Once broken they are impossible
things to repair.

(Anne Sexton)